Necessário para diversos trabalhos na área do meio ambiente, saber como fazer um inventário florestal pode ser o seu diferencial no mercado de trabalho ou na vida acadêmica.
Inventário Florestal, o que é?
O inventário florestal é um serviço ambiental que visa o levantamento de dados qualitativos e quantitativos da vegetação de uma determinada área. Ou seja, em um inventário diversas metodologias podem ser aplicadas de forma que dados como: número de espécies arbóreas, quantidade de indivíduos, evolução do estágio sucessional, entre outros, sejam coletados para servirem como base nos mais diversos tipos de projetos e serviços.
Assim, os inventários podem ser requeridos por órgãos ambientais regionais, como secretárias de meio ambiente municipais e estaduais, ou a nível nacional, como o IBAMA. Além disso, podem ser requisitos para a implantação de empreendimentos públicos ou privados. Por isso, saber a base para a execução desse trabalho pode ampliar seus horizontes na área ambiental.
Agora que você sabe o que é este projeto e quando ele pode ser solicitado, vamos ao passo a passo de como fazer um inventário florestal?
1. Defina o objetivo do Inventário Florestal
Antes de definir o escopo do seu projeto e pensar em ir para o campo fazer o levantamento é essencial que você delimite quais são seus objetivos. Isto é, que dados você pretende coletar? Quais dados você precisa para o seu trabalho? Quais os resultados você pretende alcançar? Essas são algumas perguntas que você pode se fazer antes de planejar o seu inventário.
São muitos os dados que podem ser mapeados durante a execução do levantamento e nem todos são necessários para o seu projeto e só vão consumir tempo e recurso.
2. Faça um estudo prévio da área
Com seus objetivos definidos você terá uma base para escolher a metodologia que melhor se encaixe para o seu inventário florestal e definir os dados que serão utilizados e os equipamentos de campo necessário.
É importante saber que existem diversas metodologias que podem ser aplicadas dentro de um Inventário florestal. Aqui vão alguns pontos que você deve levar em consideração na hora de definir qual delas devem ser aplicadas:
Conhecer a área de estudo
Antes de partir para o campo é muito importante fazer uma avaliação prévia do local. Esses dados podem ser encontrados em matrículas de imóveis, projetos topográficos da área, estudos anteriores feitos no local ou na região. Mas, caso não tenha acesso a esses dados, observar a área através de ferramentas como o Google earth já são o suficiente para ter uma primeira impressão do local;
Fitogeografia
Buscar entender como é a distribuição da vegetação na área e quais as características das plantas do local é essencial para definir a melhor metodologia.
O Brasil possui diversos biomas e os remanescentes florestais diferem-se entre eles. Por isso é essencial entender as particularidades fitogeográficas do local em que sua área de estudo está inserida.
Faça uma busca na literatura sobre a área. Avaliar com antecedência como será o campo te auxilia a escolher uma das metodologias que vamos apresentar a seguir e garantir que você coletará os dados necessários para ter bons resultados.
3. Escolha a metodologia do Inventário Florestal
Método de censo para fazer um inventário florestal
O Censo consiste é o levantamento exaustivo ou da totalidade dos indivíduos da área. Se no local do estudo há 100 árvores, por exemplo, então todos os dados de todas eles serão coletados. A vantagem do método de censo é que você tem dados mais exatos sobre os indivíduos da área.
Passo-a-passo para o método de censo
Observação inicial
Em campo, com sua área de estudo definida, faça inicialmente uma vistoria rápida pela área, caminhe de uma extremidade a outra. Isso permitirá uma visão mais ampla da área.
Aproveite esse primeiro momento para coletar alguns dados fitossociológicos como: altura da serapilheira, presença de sub-bosque (anote algumas espécies presentes nele), presença de gramíneas, lianas, herbáceas e epífitas. Esses dados podem ser muito uteis na escrita do relatório.
Lembre-se que esses parâmetros podem variar entre biomas e por isso é preciso conhecer a fitogeografia do local.
Marcação dos indivíduos
Existem duas marcações essenciais que você precisa fazer: o georeferenciamento dos indivíduos, através de um GPS ou de um aplicativo de GPS confiável. Esta coleta das coordenadas auxiliará na produção de mapas posteriormente.
A outra marcação que não pode faltar é a identificação dos indivíduos, através da enumeração deles. Essa identificação pode ser feita adicionando uma fita no tronco da árvore, ou com tintas, ou “tags” se você tiver tempo disponível e um orçamento maior.
Essa marcação evita que ao longo do levantamento seja coletados dados repetidos e permite, que em visitas futuras, você possa encontrar os indivíduos com maior facilidade.
Coleta dos dados dendrométricos
Para a metodologia de censo será preciso coletar dados como o Diâmetro altura do peito (DAP) que pode ser feito com uma fita diamétrica. Se você não possuir, pode coletar o Perímetro altura do peito (PAP) usando uma trena métrica e depois fazer a conversão desse valor.
Temos um post ensinando sobre os cálculos dendométricos. Confira aqui
Também será necessário coletar dados da altura total da árvore (HT), que pode ser feito com um clinômetro, calibradores mais modernos, ou estimando por observação. Além da HT será necessário coletar a altura da primeira bifurcação(HB), que é altura onde o primeiro ramo vivo da árvore surge. Também é necessário a identificação do indivíduo a nível de espécie.
Os dados coletados podem ser tabelados conforme o modelo abaixo:
Nº | NOME | PAP(cm) | HB(m) | HT(m) |
1 | Canafístula | 50 | 5 | 11 |
2 | Angico branco | 144 | 4 | 10 |
3 | Canela-guaicá | 130 | 3 | 12 |
Tabulação e tratamento dos dados
Depois de ter todos os dados é hora de passar as informações para as planilhas que vão te permitir trabalhar com os dados. Os resultados que precisam ser apresentados em um inventário florestal podem variar dependendo do objetivo dele, mas normalmente os dados que precisam ser trabalhados são:
- Média do DAP;
- Média da altura das árvores;
- Volume total e individual;
- Volume comercial da madeira;
- Volume da lenha;
- Estado de conservação da área.
Analise dos resultados
A avaliação dos resultados também é dependente dos seus objetivos. Alguns inventários florestais são feitos com o objetivo de avaliar se a área estudada poderia passar por um processo de corte ou desmate. Dessa forma, você deve evidenciar nos seus dados informações que demonstrem se a área está muito degradada ou está conservada, de acordo com o objetivo do seu projeto.
Além do censo outra metodologia muito utilizada e eficiente, principalmente em caso de grandes remanescentes florestais, é o método de amostragem por parcelas.
Método de amostragem por parcela para fazer um inventário florestal
Quando a área alvo do nosso estudo possui uma grande extensão e com a presença de muitos indivíduos arbóreos o método de censo pode se tornar um desafio.
Pensa comigo, uma coisa é identificar 100 ou até mesmo 200 indivíduos. Outra coisa é coletar dados de mais de 1000 árvores, não que seja uma tarefa impossível, mas você tem poucos dias de campo (ou um dia só) e pouco recurso (equipe e financeiro).
Se você não pode coletar dado de todos os indivíduos, então, você pode estimar esses dados através de um processo de amostragem e um pouco de estatística. É nesse sentido que o método de parcelas é muito utilizado.
O método de parcela constitui em delimitar quadrados (de 10x10m geralmente) dentro do remanescente florestal, onde será coletado os dados fitossociológicos e dendrométricos no interior dessas parcelas para posteriormente ser feito uma estimativa de todo o remanescente a partir desses dados.
Passo-a-passo do método de amostragem por parcelas
Observação inicial
Assim como no censo no método de parcelas também é importante fazer um reconhecimento inicial da área, fazendo uma caminhada entre os extremos do local.
Transectos
O transecto é o caminho que você faz entre uma parcela e outra, enquanto você caminha é importante fazer algumas anotações do que vê ao seu redor. No transecto você não precisa coletar dados dendrométricos, mas é interessante anotar as espécies que está vendo ao seu redor, sinais de degradação e outras informações que achar pertinente sobre o ecossistema.
Delimitação das parcelas
Com uma fita métrica de pelo menos 50m ou fita zebrada deve ser feito um quadrado de 10x10m no interior do remanescente. Esse quadrado delimita a sua parcela.
A quantidade de parcelas varia de acordo com tamanho da área. A área total das parcelas deve ser equivalente a pelo menos 3% da área total. Além disso, elas devem ser as mais equidistantes possíveis, isto é, devem ter a mesma distância uma das outras. Colete a coordenada geográfica do centro das parcelas para poder marca-las nos mapas que serão feitos posteriormente.
Coleta dos dados dendrométricos
Assim como no método de censo deve-se coletar dados de todos os indivíduos arbóreos no interior de cada parcela, são os mesmos dados: PAP ou DAP, altura total, altura da primeira bifurcação e a espécie, mas sem a necessidade de coletar as coordenadas de cada indivíduo.
Coleta dos dados fitossociológicos
Além dos dados dendrométricos é importante coletar dados como serapilheira, formação do sub-bosque, presença de gramíneas, lianas e epífitas, como dito anteriormente nem todos os biomas apresentam esses mesmos parâmetros.
Tabulação e tratamento dos dados
Pelo caráter amostral do método de parcelas o tratamento dos dados acaba sendo um pouco mais complexo. Por isso existem alguns softwares que te auxiliam no processamento, é o caso do fitopac, que faz o cálculo dos dados fitossociológicos de forma gratuita. Quando falamos de remanescentes/fragmentos florestais, ou até mesmo outros biomas, é importante evidenciar o estágio sucessional em que a área encontra-se. O fitopac fornece resultados que podem servir de parâmetros para essa avaliação.
Analise dos resultados
Quando estamos trabalhando com remanescentes de biomas, sejam eles florestais ou não, é importante falar sobre o estado de conservação dessas áreas, outro dado importante é o estágio sucessional em que o local se encontra. Isso porque esse tipo de avaliação pode servir como base para que os órgãos fiscalizadores liberem ou não a autorização que você protocolou.
4. Escrita do projeto
O projeto ou relatório também podem variar de acordo com seu objetivo, órgão ambiental responsável e região do país. Por isso, órgãos ambientais e as Legislações disponibilizam as diretrizes e modelos. Sendo assim, o primeiro local que você deve procurar, são nestes documentos. Inclusive, se possível, olhe a legislação antes de ir pra campo e certifique-se de que você tem o que precisa para coletar todos os dados necessários.
Caso não precise seguir padrões específicos sugerimos que siga essa linha de raciocínio:
- Capa;
- Sumário;
- Dados do local, dados da equipe e se houver dados de um contratante;
- Introdução;
- Objetivos;
- Descrição da área de estudo;
- Materiais e métodos;
- Resultados;
- Conclusão
- Referências;
- Anexos: fotos do local, planilhas de dados dos indivíduos
ALGUMAS DICAS PARA MELHORAR A QUALIDADE DO SEU TRABALHO
Trabalhe para entregar o melhor projeto possível! Atente-se aos detalhes.
- Antes de ir para campo revise todos os materiais de campo necessários para o trabalho;
- Ao enviar o relatório ao órgão ambiental, revise a legislação pertinente ao projeto. Isso fortalece o embasamento do projeto e previne adequações.
- Se atente às espécies em extinções. Elas precisam ser destacadas no projeto, pois a existências delas no local pode inviabilizar a instalação do empreendimento ou para que possam ser cortadas vão demandar alguma compensação ambiental.
- Forme uma equipe de duas ou mais pessoas para o campo. Fazer o levantamento sozinho além de mais trabalhoso pode abrir margem para erros que facilmente seriam evitados se duas ou mais cabeças pensassem juntos.
- Busque ler projetos de terceiros. Na internet você encontra artigos científicos e relatórios técnicos publicados que mostram como outras pessoas executam o inventário florestal.
O inventário florestal é um projeto complexo, que apenas com o tempo e cuidado você dominara bem as etapas do projeto. Lembre-se sempre de ficar atento a qualidade da escrita, pois ela é essencial para o fiscal que estará lendo o seu trabalho.
Texto escrito por:
Bruno Henrique Godinho
Graduando em Ciências Biológicas pela UEM e Analista de Projetos ambientais na Resoluto Consultoria Abiental
Informações super pertinentes, como sempre =)
Se me for possível pedir rsrsr.. Façam de Laudo de Caracterização da vegetação =)
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Eu amei o material! Muito didático. Vou até salvar. kkkkkk Obrigada mesmo.