As aves fazem parte do grupo mais diverso e abundante de vertebrados terrestres. Por isso são peças fundamentais nos ecossistemas onde estão presentes. De um modo geral existe três formas diferentes para fazer levantamento de avifauna e obter dados da diversidade e abundância das aves de um local, são eles:
- Pontos de escuta (com ou sem gravadores autônomos);
- Contagem ao longo de transecções;
- Captura/recaptura.
Cada uma dessas diferentes formas pode apresentar variações e adaptações para diferentes objetivos e, também, às condições do local estudado.
É importante salientar que as amostragens devem sempre começar cedo, antes dos primeiros raios de sol rasgarem o céu. Isso é necessário pois, as aves possuem maior atividade e por isso por isso, você identificará com mais facilidade, as espécies presentes. Esse horário muda se seu foco de estudo for aves noturnas. Neste caso, opte por fazer campo perto do entardecer à diante.
Outro ponto importante é a recomendação fazer a gravação de cada amostragem. Afinal, você pode não lembrar da espécie ou pode ouvir uma vocalização pouco usual de uma espécie conhecida. Com o som, você pode confirmar qual é a espécie no pós campo.
Metodologias para levantamento de avifauna
Pontos de escuta
Este método foi desenvolvido na França e modificado por Jacques Vielliard (pioneiro nos estudos de bioacústica no Brasil) para atender as peculiaridades das regiões neotropicais. Para que o método funcione, o ornitólogo deve conhecer bem as manifestações sonoras das espécies, e uma vez que isto está bem definido, o método se mostra de baixo custo e simples. Este é o método mais usado em trabalhos de consultoria ambiental.
Excelente para ecossistemas florestais, o método passou a ser uma eficiente ferramenta de levantamento de avifauna. Esta metodologia fornece, além da riqueza, a estimativa populacional representada por um índice, chamado IPA (índice pontual de abundância).
Como fazer os pontos de escuta, sem gravadores.
Primeiramente, você vai estabelecer os pontos de amostragem na área, respeitando uma distancia mínima de 300 metros entre um ponto e outro, para garantir a independência dos registros em cada um destes. Assim, em cada ponto o ornitólogo observador ficará a mesma quantidade de tempo e a cada contato que você tem com uma ave, representa um bando, casal ou indivíduo único de uma espécie. Deste modo, você vai analisar os contatos para que não ocorram duplas contagens, como por exemplo no caso de Psitacídeos (Papagaios, maritacas e periquitos), que se deslocam muito no ambiente onde vivem.
Por fim, após vários dias de amostragens será possível extrair informações mais confiáveis sobre a riqueza e a abundância das espécies no local.
Como fazer pontos de escutas, com gravadores.
Como nos pontos de escuta tradicionais, você pode usar gravadores autônomos para obter dados sobre pontos específicos distribuídos pela área de estudo.
Os gravadores autônomos apresentam diversas vantagens em relação ao ponto de escuta tradicional.
Vantagens de utilizar gravadores
O primeiro é que o ornitólogo não precisa ficar no campo e pode ir adiantando outras coisas da pesquisa. Segundo, o gravador não precisa descansar. Assim, ele grava dia e noite sem parar de acordo como você configurou. O lado positivo é que isso permite amostragens de durações muito longas e em horários nos quais o ornitólogo não estaria presente usualmente.
Sem contar que podem ser instalados múltiplos gravadores, o que potencializa ainda mais essas vantagens. Por último, a presença dos gravadores autônomos no levantamento de avifauna, não assusta ou afeta o comportamento das espécies como a presença do observador em campo, que é algo bem notável para a maioria dos animais, que poderiam se afastar ou não fazer som algum.
Desvantagens de utilizar gravadores
Infelizmente, os gravadores também apresentam desvantagens. Além de não possibilitar registros visuais, também há algumas espécies que possuem vocalizações iguais ou muito parecidas aos nossos ouvidos. Eventualmente, isso acaba sendo um problema na identificação posterior.
Contagem por transecções no levantamento de avifauna
Neste método o observador percorre um caminho pré-determinado à uma velocidade constante, marcando cada contato no caminho (podendo ou não marcar a que distância cada contato ocorreu do trajeto da transecção). Apesar de não distinguir diferenças de abundância relativa como o método de amostragem por pontos, os dados obtidos são mais precisos sobre a densidade populacional de cada espécie (caso as distâncias de cada contato em relação ao transecto sejam registradas com precisão). Assim, transectos são mais eficientes para áreas heterogêneas ou extensas e fornecem dados mais precisos e seguros sobre a densidade de aves de uma área.
Captura e Recaptura
Consiste na utilização de redes de neblina ou arapucas com isca. Você pode utilizar este métodos para estudar a população de uma espécie. Assim, por meio da captura, você obtém vários dados dos indivíduos, como peso, dimensões corporais, sex e amostras para análise genética. Além disso, possibilita a marcação com anilhas para reconhecimento em avistamento, recapturas e, também, para acompanhamento do desenvolvimento do indivíduo (caso seja recapturado futuramente).
Os contras desse método são vários. Primeiro, o pesquisador deve estar atento e verificar as redes e armadilhas constantemente, já que o animal fica vulnerável a predadores (muitas aves de rapina e macacos aprenderam a pegar as aves que ficam presas nas redes de neblina) ou morte por estresse ao ficarem presas (algumas espécies elevam os batimentos cardíacos a mais de 2000 por minuto, podendo infartar ou ter um avc, algo comum em beija flores).
Leia também:
- O papel do biólogo no manejo de fauna
- Quem pode ser consultor ambiental?
- Quais as áreas de atuação do biólogo?
Outra limitação desse método é a captura de espécies restrita ao estrato do ambiente em que a rede foi instalada. Dessa forma, capturar aves que vivem no dossel da floresta requer subir e descer até as copas das árvores frequentemente e marcar e soltar os indivíduos capturados, o que pode ser excessivamente desgastante e trabalhoso.
Faça registro fotográficos
Por último, tenha uma câmera semi ou profissional e faça fotos. Afinal, em qualquer metodologia utilizada, é importante que você faça registros fotográficos das espécies encontradas, tanto para fazer a identificação posterior da espécie, quanto para incluir no relatório que você irá escrever.
Ao mesmo tempo é importante que a câmera possua uma lente com um zoom bem amplo, pois algumas espécies de aves estarão empoleiradas em árvores altas ou galhos distantes. Assim, um bom zoom é capaz de fazer um ótimo registro do espécime.
Texto escrito por
Matheus Eduardo Bortolloti
Graduando em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Estagiário no Laboratório de Ornitologia e Bioacústica (LOBIO) e no Laboratório de Invertebrados Aquáticos e Simbiontes (LIAS). Além disso, possui experiência na identificação (visual e auditiva) de aves da Mata Atlântica da região sul do Brasil já tendo inclusive ajudado em amostragens de avifauna de consultoria ambiental.
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