A jornada da maioria dos profissionais da área ambiental começa de forma parecida: entrar na faculdade, se formar. Fazer mestrado e seguir no doutorado. E depois? Quais são as opções de atuação até abrir os editais de concursos públicos?
Muitos não saber o que fazer e qual caminho seguir. Mas calma que isso é mais normal do que parece, e está tudo bem. Por isso, convidamos o José Ricardo para escrever como está sendo para ele, esse processo de transição entre o doutorado e a entrada no mercado de trabalho. Vamos lá?
O caminho até chegar ao doutorado
Logo que eu iniciei minha graduação em Ciências Biológicas, em 2011, eu entrei num laboratório de pesquisa de Insetos da Universidade como voluntário. Não demorou para eu ganhar minha primeira bolsa de Iniciação Científica, e assim eu sobrevivi até o final da graduação. Me formei em 2015 e em 2016 iniciei um mestrado em Biologia Animal. Finalizei o mestrado em fevereiro de 2018, e em março do mesmo ano eu já iniciei um doutorado em Entomologia. Termino o doutorado nesse ano, 2022. E esse é o resumo da minha trajetória acadêmica até aqui.
Tenha sempre uma carta na manga
Plano A – Academia
O meu plano A sempre foi ser pesquisador, e sei que esse é o plano A da maioria das pessoas que cursam Biologia. Durante a graduação eu tive contato com a consultoria ambiental pois fiz estágio obrigatório na FEPAM, que é o órgão ambiental licenciador do Rio Grande do Sul.
Além disso, tive uma disciplina de Licenciamento Ambiental e até fui auxiliar de campo em alguns trabalhos envolvendo inventário florestal.
Além disso, muitos amigos meus se formaram e entraram na consultoria ambiental. Apesar de ter tido toda essa vivência, meu plano A continuava sendo a vida acadêmica.
Meu plano A funcionou muito bem por muitos anos. Eu sabia que para ser pesquisador ou um professor renomado de universidade eu precisaria fazer mestrado e doutorado, e foi o que eu fiz.
Muitos terminam o doutorado e tentam ser classificados em bolsas de Pós-Doutorado, que é um “estágio depois que você termina o doutorado”. Sabia que era comum no passado que os pesquisadores ficassem renovando bolsa de pós doc ano após ano até conseguir ser aprovado nos concorridíssimos concursos públicos para professor? Essa estratégia também fazia parte do meu plano A.
O que mudou?
Entretanto, bolsas de pós doc no Brasil começaram a sofrer os ataques à ciência, e hoje em dia são poucas bolsas disponíveis para tantos doutores no mercado. Na verdade, isso é muito contraditório, porque no Brasil apenas 0,2% de toda a população tem doutorado e, mesmo assim, não tem espaço para todo mundo.
Para agravar toda a situação, concursos públicos também estão cada vez mais raros, e quando aparecem, normalmente são para professores substitutos. Ou seja, contratos de um ou dois anos que podem ser renovados.
Todo esse cenário que eu contei pra vocês até agora me levaram a me questionar sobre o meu plano A. Eu comecei a ficar muito frustrado e desenvolver sintomas de ansiedade.
Não achava justo que depois de tanto esforço eu acabasse terminando o doutorado e ficando desempregado. Não era possível que todo esse esforço fosse por água abaixo. Foi aí que eu comecei a desenvolver o plano B.
Plano B – A Consultoria Ambiental
Como eu falei no começo desse texto, eu já conhecia a consultoria ambiental. Mas eu tinha alguns preconceitos relacionado a esse área de atuação do biólogo. No começo, eu acreditava que eu não conseguiria trabalhos na consultoria pois não tinha a experiência de mercado.
Além disso, achava que existia uma panelinha muito forte na consultoria ambiental, onde apenas entrava no mercado quem conseguisse indicação.
Então eu comecei a pesquisar mais sobre o assunto. Quais eram os trabalhos que um consultor ambiental faz, o que eu sabia fazer e o que eu deveria aprender caso quisesse atuar no mercado. Então foi quando a “mágica” começou.
O poder das redes sociais
Nas redes sociais existe algo chamado de algoritmo. Funciona basicamente assim: quanto mais você tem algum tipo de interação com algum tipo de conteúdo, mais a rede social te mostra esse conteúdo, pois ela entende que você tem interesse por isso.
Dessa forma, eu comecei a curtir e seguir páginas no instagram que tratavam de consultoria ambiental, e cada vez mais o instagram me mostrava esse conteúdo. Não demorou muito para eu começar a encontrar vários cursos online sobre consultoria ambiental.
Inclusive, foi assim que eu conheci a equipe da Resoluto. Eu participei de uma Live que o Douglas fez no instagram e descobri que eles ofereciam cursos online. Logo, comecei a fazer cursos com eles.
Além de começar a fazer vários cursos, entrei em redes de pessoas muito fortes de consultoria ambiental, onde acabei conhecendo muitos profissionais de todo o Brasil. Isso foi fundamental para eu começar a desenvolver um networking com esses profissionais.
Vocês se lembram quando eu disse que tinha um preconceito com a consultoria, que achava que apenas profissionais que estavam dentro de panelinhas conseguiam destaque? Bem, isso não é totalmente mentira, mas há um método assertivo para que você consiga entrar nesse mundo, e é através do Networking.
O papel do networking para entrar na consultoria ambiental
Eu comecei a utilizar muito o Linkedin, que é uma rede social voltada para a vida profissional. E logo aprendi uma frase, “quem não é visto, não é lembrado”. Comecei a postar muito no Linkedin.
O que eu postava? Qualquer coisa que eu achasse que pudesse me trazer resultados profissionais. Eu sou especialista em insetos, comecei publicando conteúdos voltados para entomologia. Postava fotos antigas minhas em campos que realizei na graduação, desenvolvendo algum método de amostragem, por exemplo.
A Academia também te prepara para o marcado de trabalho
Além disso, houve uma virada de chave. Eu percebi que durante todos os anos de academia eu consegui desenvolver muitas habilidades e competências que são importantes para a consultoria ambiental.
Por exemplo, eu li e escrevi inúmeros artigos científicos, relatórios e projetos. Muitos estudos de consultoria ambiental necessitam de um bom relatório, com introdução, materiais e métodos, resultados e discussão e conclusão, além das referências bibliográficas. Ou seja, nada de muito diferente com o que eu já estava acostumado a fazer.
Outras habilidades desenvolvidas
Outra habilidade interessante é a oratória. Afinal, na consultoria ambiental lidamos com muitos tipos de pessoas diferentes, desde pessoas que não tem muito estudo (algumas vezes até analfabetas), até grandes empresários. E, por isso, para cada um desse público você precisa se comunicar de maneira personalizada. Por exemplo, na academia eu apresentei inúmeros seminários. As vezes para um público leigo, as vezes para renomados cientistas. Sendo este, mais um ponto que eu desenvolvi na academia e podia usar na consultoria (e você também pode).
Lembra qual era o outro preconceito que eu tinha? A falta de experiência? Pois bem, eu aprendi a enxergar a falta de experiência de uma maneira diferente. Se eu não tenho experiência em algo, a única maneira de conseguir experiência é com uma primeira oportunidade. E como conseguir isso?
Bom, eu descobri que nem sempre os empregadores estão interessados na sua experiência. Muitas vezes eles precisam apenas de alguém que saiba resolver os problemas deles. Sabem como se faz isso? Com conhecimento. Então, você pode não ter experiência porque nunca teve uma primeira vez, mas se você tiver conhecimento e conseguir passar confiança para o contratante, você vai ser contratado!
Percorra vários caminhos
Não demorou muito para que eu começasse a ganhar visibilidade. Hoje, já tive a minha primeira oportunidade e já atuo como consultor ambiental. Como eu ainda estou lutando para terminar o doutorado, eu não consigo me dedicar tanto quanto eu queria para a consultoria ambiental. Mas eu sei que quando eu terminar ele, eu já terei um plano efetivo para não ficar desempregado, e nem era meu plano A. E sabem o que é o mais legal? Eu não necessariamente abandonei o plano A. Mas agora eu sei que ele não é o único caminho.
E você, assim como eu, pode trilhar seu caminho e colocar a consultoria ambiental como uma opção de atuação. Comece agora mesmo!
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Texto escrito por:
José Ricardo Assmann Lemes
Biólogo pela UNISC, Mestre em Biologia Animal pela UFRGS e atualmente Doutorando em Ciências Biológicas (Entomologia) pela UFPR, com período sanduíche na University of Florida. Atua como pesquisador e consultor ambiental com ênfase em entomofauna.
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